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Cancioneiro atemporal de Lulu Santos dispensa os artifícios de EP de remixes que inclui Iza, João Gomes e Melim
Capa do EP ‘Atemporal remix’, de Lulu Santos — Foto: Divulgação
Resenha de EP
Título: Atemporal remix
Artista: Lulu Santos
Edição: Warner Music
Cotação: ★ ★ 1/2
♪ Hábil arquiteto da canção, Lulu Santos muitas vezes atingiu o pop perfeito. O cancioneiro autoral do artista carioca – sobretudo o composto ao longo dos anos 1980 – pode ser qualificado como atemporal pela natureza perene da obra de Lulu. Aliás, Lulu vive há 40 anos da força dessas canções, recicladas nos shows do cantor com arranjos geralmente renovados.
Atemporal remix – EP lançado na noite de ontem, 23 de maio, com seis releituras de músicas do artista, retrabalhadas com o canto de Lulu acoplado aos beats de produtores dos ritmos do momento e às vozes de artistas da geração corrente – é tentativa quase vã de atualizar o que será sempre moderno porque, em essência, as canções de Lulu Santos nunca tiveram prazo de validade.
Das seis faixas do EP Atemporal remix, três já haviam sido lançadas em singles apresentados desde novembro de 2023.
Das três novidades, a mais equivocada é a abordagem da balada Certas coisas (Lulu Santos e Nelson Motta, 1984) com Iza e o duo Tropkillaz. Todo o equilíbrio de sons e silêncios – atmosfera fundamental para a fruição de melodia e letra simbióticas – se esvai com os beats do duo formado por Laudz e Zegon.
Em contrapartida, O último romântico (Lulu Santos, Antonio Cicero e Sérgio Souza, 1984) é canção de espírito juvenil, quase adolescente, que se afina com o canto do trio Melim no remix produzido por Ariel Donato.
Já Adivinha o quê (Lulu Santos, 1983), reprocessada com Luedji Luna e Ruxell, fica no meio do caminho com suingue funky. A música pedia batidão mais encorpado.
Das faixas já conhecidas, a melhor é Tudo azul (Lulu Santos e Nelson Motta, 1984), estilizado baião pop que ganhou a voz de João Gomes, jovem voz do forró, e a batida de Rafinha RSQ. A faixa flui bem, em clima de piseiro, revitalizando música lançada há 40 anos.
Já Tempos modernos (Lulu Santos, 1982) perdeu todo o charme com a voz e o beat de Pedro Sampaio ao passo que Tão bem (Lulu Santos, 1984) em nada ganhou com a voz de Ana Gabriela e a batida de Papatinho.
Artista antenado, Lulu Santos já recorre à música eletrônica há 30 anos para se atualizar na cena nacional. Basta lembrar o álbum Assim caminha a humanidade (1994), ponto de partida da bem-sucedida conexão de Lulu com o DJ e produtor musical Marcello Mansur, o Memê.
Até por isso mal nenhum há na produção deste EP Atemporal remix. De todo modo, embora o disco preserve as melodias das seis músicas, fica claro que as canções de Lulu Santos prescindem de artifícios para continuarem seduzindo românticos de norte e a sul do Brasil. As seis canções já vieram ao mundo na forma de pop perfeito.
Fonte: G1 Mauro Ferreira