Na canção que abre e batiza a primeira parte do disco, Eu feat. você, há também ânsia de forjar congraçamento universal com “corações no mesmo beat”. O refrão é pegajoso, mas, em 2020, o mundo definitivamente não está em clima de festa.
Se há algo que soa natural no Melim, e parece incrementado em algumas músicas do disco Eu feat. você, é a habilidade para criar canções melodiosas. Balada composta por Diogo Melim (com o irmão Rodrigo e com Vitor Tritom) para a filha Mel e gravada pelo trio com o reforço vocal de Lulu Santos, hitmaker de outra era do pop nacional, Cabelo de anjo traz o penteado perfeito para o pop superficial do século XXI.
O mérito é também dos produtores e arranjadores do disco (Guilherme Schwab, Juliano Moreira e o tecladista Rafael Castilhol), hábeis no entendimento de que a leveza deve reger o som do Melim. Os arranjos estão todos em sintonia com as músicas.
Parceria de Diogo com Rodrigo Melim, Menina de rua parece desafinar o coro contente ao lembrar a carência de crianças em mundo povoado por injustiça social. Só que, à medida que a música cai no suingue, o Melim dilui o tema ao encadear genéricos versos de autoajuda na letra.
A mesma superficialidade pauta Quem me viu, balada sobre superação que evolui no balanço do reggae. Composição de Gabriela Melim, solada pela cantora, Pega a visão reforça a sensação de que o disco do Melim perde poder melódico de sedução a partir da quarta faixa.
Fechando a primeira parte do segundo álbum de estúdio do trio, Cantando eu vou – parceria do Melim com Juliano Moreira – faz o disco Eu feat. você recair na cadência do reggae e na habitual good vibe do grupo com a adesão vocal do cantor baiano Saulo Fernandes.
Enfim, é bobagem crucificar o Melim por fazer no disco exatamente o som que se espera do trio (com menção honrosa, dentro do estilo, para as três primeiras músicas), mas também é tolo acreditar na tese de “maturidade” dos irmãos. Até porque, de boas intenções e energias, o inferno do universo pop continua cheio…