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Silva mostra na calorosa estreia de turnê no Rio que ‘Brasileiro’ é show feliz e ponto
A consagração popular de Silva na passagem do show Brasileiro pela cidade do Rio de Janeiro (RJ) no último fim de semana, com quatro lotadas apresentações feitas no Theatro Net Rio, não aconteceu por acaso.
A cotação do artista no mercado de música pop do Brasil vinha subindo desde o lançamento, em maio de 2016, do clipe da música Feliz e ponto(Lúcio Silva e Lucas Silva, 2015), faixa do terceiro e até então mais pop álbum do cantor, compositor e músico capixaba, Júpiter (2015). A trajetória continuou ascendente com a turnê do show em que Silva cantou o repertório de Marisa Monte.
Foi com o público ampliado pelo projeto sobre Marisa e com visibilidade bem maior que, em 25 de maio deste ano de 2018, Silva lançou o sexto álbum, Brasileiro (slap), disco surpreendente em que o cantor radiografa o momento atual do país com brasilidade pop que ecoa o samba e a batida do violão da sexagenária Bossa Nova.
Contudo, a estratégica participação da cantora Anitta na faixa mais pop(ular) do álbum, Fica tudo bem (Lúcio Silva e Lucas Silva, 2018) – música, aliás, providencialmente promovida com clipe e reservada para o bis do show – manteve Silva em evidência e atraiu ouvintes para Brasileiro, o melhor álbum do artista, justamente no momento em que Gal Costa promovia recém-lançado single com a música mais inspirada do cancioneiro autoral de Silva, Palavras no corpo (2018), composta a partir de letra do poeta Omar Salomão.
Todo esse movimento culminou com o sucesso retumbante do show da turnê Brasileiro, que, na passagem pelo Rio, teve sessão extra no sábado, 7 de julho, para dar conta da demanda do público.
Na estreia carioca do show, em 6 de julho, Silva cantou, para um público caloroso (formado por pagantes e não por convidados do meio musical, como é comum no Rio), 24 músicas alocadas entre dois temas instrumentais do álbum Brasileiro que funcionaram como vinhetas, Palmeira (Lúcio Silva, 2018) e Sapucaia (Lúcio Silva, 2018).
No show, tal como no disco, permaneceu a sensação de que Silva canta o Brasil como estrangeiro na própria pátria musical – impressão potencializada já na abertura do roteiro por conta do texto em off que citou didaticamente os instrumentos musicais que compõem a batucada do samba.
Aliás, foi na cadência estilizada desse ritmo nacional(ista) que Silva deu voz a sambas como Guerra de amor (Lúcio Silva e Lucas Silva, 2018) e Prova dos nove (Dé Santos, 2018), este com jeito de pagode romântico.
Alternando-se no violão e nos teclados, Silva apresentou show coeso, de roteiro bem estruturado, aberto com Nada será mais como era antes(Lúcio Silva e Lucas Silva, 2018) – música que questiona símbolos nacionais nos versos cantados espontaneamente pela plateia, em prova da rápida assimilação do álbum Brasileiro pelo público do cantor – e fechado (já no bis) com Brasil, Brasil (Lúcio Silva e Lucas Silva, 2018), tema escrito sob ótica gringa.
Entre o início e o fim, Silva cantou músicas dos seis álbuns (com natural ênfase no repertório de Brasileiro) e abordou repertório alheio, dando tom terno e afetuoso à balada (There is) No greater love (Isham Jones e Marty Simes, 1936) – standard do jazz associado à cantora norte-americana Billie Holiday (1915 – 1959) – e invertendo o gênero dos versos da apaixonante canção Que maravilha (Jorge Ben Jor e Toquinho, 1969), assumidamente ligada no roteiro ao primeiro hit viral do artista, Feliz e ponto. O público entendeu o recado e aplaudiu, inclusive o registro desencanado, íntimo, de Menino do Rio (Caetano Veloso, 1979) em clima de bossa nova.
Dividindo o palco com os músicos Lucas Arruda (baixo, synth e piano) e Hugo Coutinho (bateria e programações), Silva se manteve em confortável zona pop ao longo do show, ainda que Ela voa (Lúcio Silva e Ronaldo Bastos, 2018) tenha planado com textura prog ao fim do número.
O bloco de voz & violão protagonizado solitariamente pelo artista evidenciou a sabedoria milenar de Arnaldo Antunes ao propagar a paz na cotidiana guerra virtual das redes sociais, assunto dos versos de Milhões de vozes (2018), escritos pelo poeta a partir de melodia enviada por Silva, abrindo parceria promissora.
Se o irresistível axé A cor é rosa (Lúcio Silva e Lucas Silva, 2018) cumpriu bem a função de animar o público no arremate do show, antes do bis, este surpreendeu já no início quando Silva trouxe para o universo de Brasileiro um samba colhido na seara produtiva do Fundo de Quintal, O show tem que continuar (Arlindo Cruz, Sombrinha e Luiz Carlos da Vila, 1988) – perfeito para uma noite em que o Brasil curtia a ressaca de ter sido eliminado pela Bélgica na Copa do Mundo da Rússia.
No geral, Silva achou o tom e fez um lindo som, especialmente quando, no meio do show, deu voz à canção Palavras no corpo com interpretação que conseguiu a proeza de rivalizar com a primorosa gravação de Gal Costa.
Enfim, a julgar pelo visto e ouvido na estreia carioca do show Brasileiro, em 6 de julho de 2018, o show vai continuar para Silva por muitos anos. Brasileiro é show feliz e ponto. (Cotação: * * * *)
Fonte: G1 Mauro Ferreira